Nengo Vieira
Por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa
Nengo Vieira nasceu em Cachoeira, cidade histórica do interior da Bahia, às margens do Rio Paraguaçu, onde desembarcaram, por volta de 1600, dezenas de diferentes etnias africanas e no mesmo período, centenas de povos indígenas, nômades, todos obrigados a trabalhar na plantação de cana – de – açúcar. E mais: o português colonizador, o espanhol, o francês e eventualmente o inglês, cada um com suas influências, diversidade de preferências estéticas dando novas formas ao ambiente cultural.
Com essa influência cultural, histórica e diversidade musical passada de gerações a gerações, de pai pra filho, o menino Nengo cresceu ouvindo o bandolim arguto de seu pai Deraldo, que reunia a família e os vizinhos em inesquecíveis saraus. E aos 11 anos de idade empunhando o violão acompanhado o seu pai. Talvez por tudo isso Nengo tenha se destacado com toda sua obra de uma musicalidade tão diversa, autêntica, ao mesmo tempo regional e do mundo. Influenciado, ainda, pelos elementos da música negra, desde o blues, soul, funk, ska, rock e MPB. O mais marcante nas suas composições é a tranqüilidade. O estado etéreo de suas canções que penetram a alma e nos conforta o espírito, nos fazendo refletir sobre a pureza que há em cada coisa do mundo, mesmo quando aborda questões sociais ou sobre o amor incondicional. Como todo artista introspectivo, aos poucos reage contra sua timidez participando de várias apresentações memoráveis. Ele trabalha com diversos artistas como arranjador e instrumentista. E compositor coleciona sucessos como: Rasta Man, Somos Libertos, Chegada. Com Edson Gomes (Fala Só de Amor), com Sine Calmon (Divino e Roda Pião). Participou do CD - ‘Reggae na Estrada' da Tribo de Jah (tocando guitarra, baixo e bateria em algumas faixas).
Na década de 80 Nengo Vieira e Edson Gomes, foram precursores da cena do reggae na Bahia. Juntos fizeram os melhores CDs de Edson. Após a fim da parceria, Nengo torno-se evangélico e seu trabalho autoral é voltada para o mercado gospel. Sua banda Tribo D'Abraão, formada por Felipe Moreno – bateria; César Matos – baixo; Carlos Mendes – Guitarra; Augusto Junior – teclados; Marco Jones – percussão; Valéria Vieira e Ana Paula – backing vocal. Com eles gravou seus quatro primeiros CDs: ‘Somos Libertos' (atração fonográfica), ‘Mata Atlântica', 'Vem pro Caminho Reggar' e 'Chama' (totalmente independente, produzido e distribuído pelo Selo "Deus é Conosco". Segue abaixo entrevista exclusiva de Nengo Vieira para Ritmo Melodia – www.ritmomelodia.mus.br em novembro 2007:
1-) Ritmo Melodia – Qual sua cidade de origem e sua data de nascimento?
Nengo Viera – Nasci em 24/04/1959 na cidade Cachoeira – BA.
2-) RM – Fale do seu primeiro contato com a música?
NV – Comecei aos sete anos de idade tocando violão. Fui criado num ambiente onde a música era a atmosfera constante em nossa casa. Meu pai (Deraldo) tocava bandolim e muito bem. Tive a honra de acompanha-lo quando eu tinha 11 anos de idade. E aos 12 anos comecei a tocar baixo e guitarra nos bailes.
3-) RM – Quais suas principais influencias musicas e quais as que permaneceram?
NV – Todas permanecem. Principalmente a música negra de uma forma geral, além do samba, bossa nova choro, baião e todas as influencias da MPB.
4-) RM – Qual sua formação escolar e musical?
NV – Cheguei a fazer o curso de violão na faculdade, mas não terminei. E musicalmente sou autodidata em violão, guitarra, baixo, teclado, percussão, bateria e composição e arranjos.
5-) RM – Quando e porque você escolheu a música como profissão?
NV – A música me escolheu. E desde dos 12 anos de idade essa profissão já estava definida em minha vida.
6-) RM – O que levou você a trazer o Edson Gomes para a cena reggae baiana. E foi em qual ano?
NV – Nosso encontro foi um processo natural onde nós dois estávamos buscando o mesmo som (reggae). Isso ocorreu por volta de 1983.
7-) RM – Quais os discos de Edson Gomes que você participou diretamente. Qual instrumento você tocava nas gravações?
NV – Nos três primeiros CDs. Toquei o baixo, a guitarra, percussão e fiz os arranjos.
8-) RM – Quando e por que houve a separação artística com Edson Gomes?
NV – Trabalhava simultaneamente em dois projetos até que não deu mais para conciliar. E foi necessária a ruptura, mas sem desavenças. Em 1988, cada um buscou trilhar o próprio projeto pessoal.
9-) RM – Fale como era a cena reggae na Bahia e no Brasil quando você e o Edson Gomes começaram?
NV – Eram aparições isoladas, o reggae ainda não tinha uma cena definida, o que nos obrigou a resistir e superar muitos obstáculos. Tipo: Água mole em pedra dura...
10-) RM – Quais eram os regueiros nacionais e internacionais que influenciaram você?
NV – Bob Marley &The Wallers é minha maior influencia no reggae, apesar de ouvir outros artistas. No reggae nacional não tenho influencia de ninguém. Como fomos precursores no movimento regueiro baiano, passamos a exercer uma influência na cena reggae nacional de uma forma geral.
11-) RM – Quando e porque você escolheu a cena musical Gospel para desenvolver seu trabalho solo?
NV – A partir do momento em que a palavra de Deus passou a fazer parte da minha vida.
12-) RM – Quantos CD lançados na cena Gospel?
NV – Em 1998 lancei meu primeiro CD - "Somos Libertos" pela gravadora secular Atração Fonográfica. Hoje são quatro ( " Somos Libertos", "Mata Atlântica"," Chama" e "Vem pro Caminho regar") produzidos juntamente com Rui Mascarenhas e que agora estão sendo distribuídos pelo selo Bolamusic. E em 2007 lancei o CD - "Avivamente" e gravei meu primeiro DVD. Participei de várias coletâneas. Todos eles foram lançados no mercado de uma forma bem aberta sem restrições.
13-) RM - Você gravou algum CD solo fora da cena Gospel?
NV – Todos foram lançados no mercado de forma aberta.
14-) RM – Fale do reggae na cena Gospel?
NV – O Reggae é uma música de gueto, de resistência e de luta. Por mais que tenha sido rejeitado na cena Gospel, hoje Deus tem derramado um “avivamento”, um gás novo na sua igreja. E todos os seguimentos musicais, inclusive o reggae, tem sido muito utilizados em eventos evangélicos como ferramentas atrativas para alcançar as almas.
15-) RM – Porque você escolheu Santos para morar e São Paulo para desenvolver e divulgar seu trabalho?
NV – Na verdade fui enviado por Deus para trabalhar no processo de edificação das igrejas Bola de Neve de Santos e Guarujá, resultando em uma amplitude maior em expor nosso trabalho aqui no sudeste.
16-) RM – O que mais lhe chateava na cena reggae secular?
NV – A falta de unidade. Acho que o pouco espaço que nos é dado, fomenta uma necessidade de sobrevivência e com isso cada um busca caminhar com suas próprias pernas, dificultando o processo de união.
17-) RM – Defina seu trabalho autoral e quais as diferença musicais em relação ao trabalho realizado junto com Edson Gomes?
NV – As diferenças são claras para aqueles que conhecem os dois trabalhos. No meu trabalho busco traduzir aquilo que tenho aprendido com Jesus Cristo. Procuro falar o que vivo e viver o que falo. Foco muito a salvação através do amor de Jesus, Jo 3:16.
18-) RM – Quais os músicos que lhe acompanha? E seus parceiros musicais?
NV – Sou acompanhado pela banda Tribo d´Abraão ( Felipe Moreno - Bateria; César Matos – Baixo; Augusto Jr - Teclados, Carlos Mendes – Guitarra; Marcos Jones -Percussão, Valéria Vieira e Ana Paula - Back-vocal; João Teoria – Trompete; Ito Bispo - Sax Tenor. Meus parceiros são das antigas. Alguns deles são: Rui de Brito, Edson Gomes, Carlito Profeta, Jair Soares. Hoje tenho feito algumas canções em inglês e meus parceiros são: Pra. Sheila Possi, Bárbara Falcon e Maurício Monteiro.
19-) RM - Qual o instrumento que você assumiu hoje?
NV – Guitarra e Violão.
20 -) RM – Em estúdio, você continua gravando as linhas de contrabaixo?
NV – Sim. Além de fazer os arranjos e toco o baixo em algumas faixas.
21-) RM – Você já foi adepto ao rastafari? E qual a diferença religiosa com o evangélico?
NV – Essa Filosofia (religião) nunca foi minha ideologia. Sempre busquei conhecer Deus através da Bíblia. Evangelho é o Poder, amor e toda a essência de Deus manifestado em nós através do amor do Senhor Jesus Cristo. Rastafari é uma filosofia onde aponta um rei da Etiópia como o Cristo deles (os negros). Todas as profecias da Bíblia apontam para Jesus Cristo e não em outra pessoa. Jesus veio para salvar a todos independente de raça, credo ou cor... Salvar o mundo.
22 -) RM – Como você vê a volta dos negros à África?
NV – Vejo como uma utopia. Os negros foram arrancados da sua terra natal de forma violenta e covarde e hoje eles fazem parte do processo de formação e evolução cultura, artística, política e social nos lugares para onde foram enviados.
23 -) RM – Quais os projetos futuros?
NV – Em 2007 o lançamento do novo CD - " Avivamente". A gravação do DVD e CD ao Vivo e um CD acústico. Que Deus nos abençoe e nos traga melhores momentos em nossas vidas.
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