Ragga, o dancehall digital
O hit "(Under
Me) Sleng Teng" de Wayne Smith, com um riddim totalmente digital
produzido por King Jammy em 1985, levou o reggae dancehall a outro nível.
Muitos creditam essa música como sendo o primeiro riddim digital do reggae.
Utilizando um teclado Casio MT-40, King Jammy levou o reggae ao dancehall
digital, ou a era do ragga. No entanto isso não está muito certo, já que há
exemplos de produções digitais feitas antes como o single "Sensi
Addict" de Horace Ferguson produzido por Prince
Jazzbo em 1984. O riddim "Sleng
Teng" é um dos que mais foram gravados e refeitos ao longo dos tempos.
O estilo de
cantar dos deejays acompanhado dessa musicalidade mais digital se separou dos
conceitos tradicionais da música popular jamaicana. Se nos anos 70 o reggae era
vermelho-dourado-verde (cores da bandeira rastafari), na década seguinte se
tornou uma corrente de ouro. Foi removido de sua postura cultural roots, e houve
vários debates entre puristas do roots, que questionavam se aquele estilo
musical ainda seria considerado como sendo uma extensão da música reggae.
Essa mudança
no estilo novamente viu o surgimento de uma nova geração de artistas, como Shabba Ranks (que se
tornou o mais conhecido artista de ragga no mundo), Supercat, Cutty Ranks, Burro Banton. Houve um novo leque de produtores que
também se destacaram: Philip "Fatis" Burrell, Dave "Rude
Boy" Kelly, George Phang, Hugh "Redman" James, Donovan Germain e
Bobby Digital. Wycliffe "Steely" Johnson e Cleveland
"Clevie" Brown, conhecidos por Steely & Clevie, chegaram a
desafiar a posição de Sly
& Robbie como os líderes na produção de riddims na Jamaica. Os
deejays foram ficando cada vez mais focados em letras de slackness (sexo) e
violência. Artistas como Bounty Killer, Cobra, Ninjaman e Buju Banton acabaram
se tornando grandes figuras no gênero.
Para
acompanhar o som mais pesado dos deejays, surgiu um estilo mais leve de vocal
que veio do reggae roots e do R&B,
marcado por falsetes e uma entonação quase feminina, como Pinchers, Cocoa Tea, Sanchez, Admiral Tibet, Frankie Paul, Half Pint, Conroy Smith, Courtney Melody, Carl Meeks e Barrington Levy.
No começo
dos anos 90, músicas como
"No No No" de Dawn Penn, "Mr Loverman" de Shabba
Ranks, "Worker Man" de Patra, "Oh Carolina" de
Shaggy e "Murder
She Wrote" de Chack Demus & Pliers se tornaram
alguns dos primeiros super hits de dancehall nos Estados Unidos e no
mundo. Várias outras variedades de dancehall alcançaram sucesso fora da Jamaica
em meados dos anos 90. Tanya Stephens mostrou um estilo distinto de vocal
feminino ao gênero durante os anos 90.
Entre os
anos de 19990
e 1994,houve a entrada
de artistas como Buju Banton, Bounty Killer, Lady Saw, Shaggy, Diana King, Spragga
Benz, Capleton, Beenie Man e uma mudança ainda maior no som do dancehall,
trazida pela introdução de uma nova geração de produtores e o fim da produção
de riddims tipicamente influenciados pelo controle de Steely & Clevie.
Foi a partir
de 1992, com a
repercussão internacional à letra considerada homofóbica da música "Boom
Bye Bye" de Buju
Banton e com a realidade da violência em Kingston (que viu a morte
dos deejays Pan Head e Dirtsman), que marcou outra grande mudança no dancehall,
desta vez de volta ao rastafari e aos temas culturais, com diversos artistas de
ragga slackness se voltando para a religião. Assim, a cena do ragga consciente
foi se tornando um movimento cada vez mais popular. Uma nova geração de
"singjays" - cantores na linha mais melódica - e "deejays"
surgiu voltando à era do reggae roots, como Garnet Silk, Tony Rebel, Sanchez, Luciano, Anthony B e Sizzla. Artistas como Buju Banton e Capleton, que antes
se dedicavam às letras de slackness, se voltaram a escrever mais e mais sobre
direitos iguais e justiça. Dessa maneira foi surgindo o reggae new roots,
ou seja, o novo reggae roots, seguindo as mesmas tradições dos anos 70
porém com uma pegada mais atualizada, voltada para a nova geração.
Durante os
anos 90, o ragga remanesceu firmemente como o som mais popular para os
dancehalls jamaicanos. Começou a incorporar técnicas do hip-hop, e diversos
de seus artistas marcaram presença no meio do hip-hop nos Estados Unidos; o
ragga era também uma influência importante na cena do jungle/drum'n'bass do Reino
Unido.
O começo dos
anos 2000 viu o
sucesso de novos artistas nas paradas musicais, como Elephant Man e Sean Paul. E cada vez
mais a cena do dancehall cresceu e vários deejays e singjays foram somando
nessa lista de sucesso, entre eles, Mr Vegas, Lexxus, Red Rat, Baby Cham, Wayne
Marshall, Wayne Wonder, Kiprich, Damian Marley, Zumjay, Vybz Kartel, Assassin,
Mavado, Idonia, Busy Signal, Gyptian e Demarco. Tambem houve a popularidade dos
grupos vocais T.O.K e Ward21, e a safra de cantoras/deejays como Queen Paula,
Cecile, Spice, Sasha, Macka Diamond, Timberlee, Tifa, D'Angel, Natalie Storm,
Ms Thing, entre várias outras.
O ragga mais
voltado para o new roots também teve um grande crescimento, dividindo espaço
nas festas com o ragga/dancehall. Embora os temas de ambos na maioria das vezes
sejam bem diferentes, vários artistas gravam suas letras em ambos os ritmos -
new roots e dancehall hardcore. Artistas jamaicanos mais voltados ao new roots
com destaque internacional são Jah Mason, Chuck Fenda, Richie Spice, I Wayne,
Turbulence, Fantan Mojah, Lutan Fyah, Junior Kelly, Jah Warrior, Perfect,
Chezidek, Determine e a cantora Queen Ifrica, embora muitos outros aparecem a
cada dia.
Ragga internacional
O ragga foi
se expandindo além das fronteiras da Jamaica para o resto do Caribe, e acabou aos poucos
atingindo outras partes do mundo. Um dos primeiros deejays brancos a se destacar
internacionalmente no estilo no começo dos anos 90 foi o canadense Snow, com seu hit "Informer".
Hoje em dia, os europeus Alborosie (Itália), Gentleman (Alemanha), Million
Stylez (Suécia) e Ill Inspecta (Polônia) são sucesso mundial no ragga, cantando
em inglês. Já o artista Collie Buddz (Bermudas) é o único cantor branco do
Caribe a ter um grande reconhecimento no meio do circuito ragga internacional.
Atualmente, o judeu Matisyahu
(EUA) experimentou um sucesso internacional fazendo ragga.
Hoje em dia
o ragga tem uma cena muito forte em países como Itália, França, Japão e
Alemanha, onde ocorrem diversos shows internacionais, soundclashes e grandes
festivais dedicados ao gênero. Vários artistas locais também fazem sucesso
nesses países cantando em seus idiomas de origem.
Alguns
artistas de ragga internacional são:
- França: Daddy Mory, Lord Kossity, Krys, Yannis Odua,
Neg'Marrons, Admiral T, Loo Ranks, Mad Killa, Saël, Tairo.
- Japão: Ranking Taxi, Ryo the Skywalker, Fireball,
Pushim, Homegrown, Mighty Jam Rock, Pang, Munehiro, Megaryu & Lecca,
Ichi Bang Boshi Crew.
- Alemanha: Nosliw, Seeed, D-Flame, Benjie, Tolga, Culcha
Candela, Natty Flo, Dr Ring-Ding, Raggabun
Ragga latino
O ragga
latino, cantado na língua espanhola, surgiu no Panamá com cantores
como Nando Boom e El General. Alguns anos depois, através do ritmo dem
bow, acabou gerando sua versão irmã, o reggaeton. Porém o
reggaeton segue uma linha diferente com características próprias, embora ainda
se assemelhe bastante ao ragga-dancehall na linha de vocal e na marcação das
batidas.
Alguns
artistas de nome na cena do ragga de língua espanhola são:
- Panamá: Kafu Banton, I Nesta, Joc Polo, Bossy D;
- Espanha: Morodo, Little Pepe, Daddy Maza, Chulito
Camacho;
- Argentina: Fidel Nadal, Alika;
- Chile: I Mosa, Oskr-T, Boomer;
- República Dominicana: Newton.
Ragga no Brasil
No Brasil, o
ragga teve início nos anos 90
nas periferias da Grande
São Paulo. Alguns pioneiros nesse estilo no Brasil foram toasters
paulistas como Pepeu, Frank Frank, Rica Caveman (da banda Nômade), Grupo Kaya e
o curitibano Toaster Eddie. Mesmo sem fazer propriamente o estilo ragga, grupos
como Defalla, Skank, Planet Hemp e O Rappa deram uma
importante contribuição ao mostrar ao grande público, canções com forte
influência de ragga.
Atualmente
movimento ragga-dancehall brasileiro vem se fortalecendo cada vez mais e sua
popularidade cresceu a partir de 2002,
principalmente em São Paulo através da Família 7 Velas. São Paulo vem se
tornando a capital do ragga nacional com vários cantores, produtores, sound
systems e festas dedicadas ao gênero. No Espírito Santo o ragga vem sendo
tocado e cantado nos bailes e festas juntamente com o rap.
Passos de dança do dancehall
A
popularidade do dancehall gerou vários passos de dança que ajudam a dar mais
vibe nas festas e deixam as performances de palco mais energéticas. Muitos dos
passos vistos em videos de hip-hop na verdade são variações de passos do
dancehall. Várias crews de dançarinos ganham notoriedade ao criar e popularizar
esses passos, e muitos deejays como Elephant Man e Beenie Man escrevem letras
sobre os novos passos de dança que surgem.
Alguns exemplos de passos de dança: "Like Glue", "The
Myspace", "The Bogle", "Heel-Toe",
"Blazay-Blazay", "Pon the River, Pon the Bank", "Chaka
Chaka", "Scooby Doo", "Spongebob", "Signal the
Plane", "Hot Fuk", "Tek Weh Yuhself", "Whine
Up" (mix de pop, dance, R&B, hip-hop e dancehall), "Boosie
Bounce", "Drive By", "Shovel It", "To Di
World", "Dutty Wine", "Nuh Linga", "Beyonce
Wine", "Gully Creepa".
Com o
surgimento das dancehall queens executando os passos de dança, ajudoua
elevar a cena dancehall a outro estágio. Com muita sensualidade em seus trajes,
as vezes essas dançarinas podem chegar a beirar a vulgaridade. São sempre
vistas com muito profissionalismo nos concursos onde concorrem a grandes
prêmios, ganhando fama e status. Dancehall queens japonesas chegaram a vencer
importantes concursos na Jamaica, tornando-se altas celebridades no circuito
dancehall internacional.
Canções famosas
- Ragga-dancehall
- Shabba
Ranks - "Ting-A-Ling"
- Bounty Killer - "Fed
Up"
- Buju Banton -
"Champion"
- Beenie
Man - "Who Am I"
- Sean Paul - "Temperature"
- Mr. Vegas - "Heads
High"
- Baby Cham - "Ghetto
Story"
- Elephant
Man - "Pon The River" e "Pon The Bank"
- TOK
- "Gal You A Lead"
- Shaggy - "Wild 2
Nite"
- Ragga new roots
- Capleton - "Jah Jah
City"
- Alborosie - "Kingston
Town"
- Damian
Marley - "Welcome To Jamrock"
- Sizzla
- "Solid As A Rock"
- Chuck Fender - "Gash
Dem"
- Fantan Mojah -
"Hungry"
- Richie
Spice - "Youth's So Cold"
- Jah Mason - "Princess
Gone"
- Turbulence -
"Notorious"
- Queen Ifrica -
"Genocide"
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ragga
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