Acabou de sair nos Estados Unidos uma biografia de Nina Simone (1933-2003), escrita por Nadine Cohodas, autora de um livro sobre a Dinah Washington.
Princess Noire – The Tumultuous Reign of Nina Simone (“Princesa Negra – O Reino Tumultuoso de Nina Simone”, da Pantheon Books), a julgar pelas resenhas publicadas na imprensa americana, poderia ser dividido em duas partes.
A primeira fala dos anos de formação, quando Nina começou a estudar piano numa comunidade negra da Carolina do Norte, na época da segregação racial. Ela se dedicava a Bach e sonhava em se tornar uma intérprete de música erudita.
Um momento-chave foi quando tentou entrar na prestigiosa Juilliard e não foi aceita. Há quem diga que a recusa teria sido motivada por questões raciais. A autora diz que, por melhor que fosse como pianista, havia muitos tão bons ou melhores do que ela.
De qualquer forma, Nina Simone não entrou na Juilliard, mas foi descoberta e promovida por algumas figuras influentes da época – um poeta escreveu elegias para a artista e logo Nina gravava seu primeiro disco. Em 1959, virou febre nacional com sua versão de “I Loves You, Porgy”, de George Gershwin.
A segunda metade do livro descreve sua decadência – uma descida ao inferno que envolveu casamentos frustrados, empresários inescrupulosos (que a exploraram e a deixaram sem um tostão) e uma doença nunca diagnosticada, que a biógrafa identifica como esquizofrenia.
No final da carreira, Nina Simone deveria ter sido tratada e tinha o direito de descansar e curtir a vida, mas não podia parar. Precisava de dinheiro e se obrigou a trabalhar até o fim, desmoronando no palco, na frente de todo mundo. Ela não se importava de interromper uma música e brigar com alguém na plateia que estivesse conversando alto.
No filme Antes do Pôr-do-Sol, Julie Delpy leva Ethan Hawke para tomar um chá em sua casa e, na conversa, lembra de quando assistiu à Nina Simone em Paris. Ela levantava do piano e caminhava até o público para responder às juras de amor, elogiar uma roupa ou não fazer nada. Essa memória parece mostrar uma Nina Simone mais em paz consigo mesma. Anos antes, ela esbravejava com uma plateia que não cantasse quando ela pedia. “Nunca serei palhaça de vocês”, disse durante uma apresentação em Cannes, em 1977. “Não uso um sorrisinho pintado na cara como Louis Armstrong.”
A certa altura de um concerto de 1978, no Royal Albert Hall, em Londres, Nina Simone disse ao público: “Talento é um fardo e não uma alegria. Eu não sou deste planeta. Não faço parte da sua espécie, não sou como vocês”.
Em meio às dificuldades que experimentou ao longo da vida, é confortante imaginar que ela ao menos parecia confiante e agia com arrogância. Talvez era de onde tirava suas forças.
A sua personalidade caustica talvez se deu por enxergar tao facil a imundice do mundo e da musica. A fizeram trabalhar e lucraram em cima dela, e no fim da vida teve ainda de cantar para sobreviver, alguem de talento impar, talvez a maior interprete que o mundo ja teve, pianista e dona da voz mais pessoal que conhecemos.
ResponderExcluirTambem creio que seja um fardo, pois as pessoas aproveitam de seu talento e sequer sao carinhosas com voce.
Grande Nina, Bob creio eu que a admirava!