Entre tantas paixões e amores um continua inabalável desde minha adolescência, quando ouvi pela primeira vez o baixo ao fundo desse ritmo mágico e cadenciado, que é o Reggae em sua essência. Nasci em Belém do Pará, então nada estranho, já que os ritmos que lideram por lá são esses mesmo os caribenhos, africanos e indigenas resultando em uma miscegenação de ritmos, aliás, meu pai adorava merengue, o ritmo, não a guloseima rsrsrs....Eu estava preparada ouvi a voz de Jah e sou fiel a ele desde então, e lá se vão 30 anos acompanhando tudo que se passa no universo Rastafari. Tenho muito orgulho desse meu lado reggaeira, sempre fui conhecida como a filha de Jah ou filha do Rasta, nicks que sempre usei na internet. Em agradecimento a tudo de bom que recebo de Jah resolvi reuni tudo o que a ele se refere em especial dou destaque a Robert Nesta Marley, cujas composições, sua biografia, enfim selou de vez esse pacto de amor que tenho com o Reggae. Quando meus filhos e amigos comungam comigo desse amor incondicional que tenho pela Jamaica, pela África e sua história de dor e preconceito, lágrimas me vêm aos olhos, saber que através de mim, outros estão tendo a oportunidade de conhecer, amar e respeitar os Rastas no sentindo mais amplo da palavra. Jah!!!

Rastafari I yeahaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

Elsy Myrian Pantoja

Uma Filha de Jah

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sábado, 19 de dezembro de 2009

O Reggae no recôncavo baiano

O Reggae no recôncavo baiano: Notas sobre música e identidade!


O Reggae, ritmo musical que se desenvolveu na Jamaica, surge quando uma das formas musicais nativas, o mento, deixa-se contaminar pelo rhythm’n blues. Com a inclusão do ska e a sua evolução para o rock steady, posteriormente são incorporados todos os elementos que dariam origem ao ritmo e também ao movimento. A partir da década de sessenta os processos de industrialização e a urbanização na Jamaica provocaram um fluxo migratório importante para a formação e projeção do reggae. Nesse contexto, a figura do jamaicano Bob Marley assume fundamental importância na propagação da mensagem rasta pelo mundo. Considerado o ídolo maior do reggae na Jamaica e também no Brasil, Marley chegou a visitar a capital baiana em 1980.

O aparecimento, da música reggae em Salvador, entretanto, se dá bem antes da ilustre visita, já na década de setenta. O reggae foi citado por Caetano Veloso em 1972 no LP Transa, cujos arranjos foram feitos por Jards Macalé, e cantado por Gilberto Gil em 1979 numa versão para No woman no cry de Bob Marley. O ritmo ganhou forma e cores especiais nos trabalhos de Chico Evangelista & Jorge Alfredo e posteriormente com Lazzo Matumbi, que gravou o compacto Guarajuba acompanhado pelos músicos da banda Studio 5. Na década de oitenta surgem nomes como Nengo Vieira, Remanescentes, Terceiro Mundo, Dionorina, Geraldo Cristal e Ubaldo Warú. Mas o primeiro baiano a explorar o gênero e posicionamento rastafari na mídia foi o cachoeirano Edson Gomes, no seu LP Reggae Resistência, em 1988. Nessa época, enquanto a indústria do axé apenas engatinhava, ele vendia 100.000 discos em todo Nordeste. Dez anos depois, em 1998, Sine Calmon botou Fogo na Babilônia durante o carnaval de Salvador. Daí em diante, como sinal dos tempos, uma geração de regueiros cachoeiranos vem diversificando a cena local.

Não há como precisar o momento exato que o reggae chegou em Cachoeira - bucólica cidade afro-barroca do recôncavo - mas foi mais ou menos na década de setenta que começaram a se formar bandas do gênero na cidade. Edificada à beira do Rio Paraguaçú, a cidade de Cachoeira é bem conhecida pelos seus casarões, construídos com os capitais dos tempos áureos da cana e do tabaco. Cachoeira também teve no comércio fluvial uma das suas principais atividades econômicas. A tradição cultural e a religiosidade são traços fortes do seu povo, que também abraçou a música como forma de expressão. Suas manifestações populares quase sempre trazem a música e não incorporam apenas ritmos regionais, visto que além do samba (Tia Ciata, a patrona das escolas de samba do Rio de Janeiro era uma cachoeirana), um outro ritmo africano também encontrou na cidade mais negra do interior baiano, acolhida de pronto.

No plano da música popular, o processo de integração do gosto médio dos países periféricos a padrões pré-estabelecidos promovido de início apenas pelas grandes fábricas de disco, o rádio, o cinema, pela televisão e logo pela moderna indústria dirigida ao lazer urbano (aparelhos sonoros, juke-boxes, fitas de gravação de som, de vídeo, instrumentos musicais eletrônicos, espetáculos de massa, etc.), começou a funcionar no Brasil desde o fim da Segunda Guerra Mundial. No caso em foco, o ritmo aparece em Cachoeira quando o “milagre brasileiro” chega ao recôncavo baiano com a tecnologia petroquímica implantada no lugar dos antigos canaviais, trazendo consigo as tecnologias de comunicação e as novidades da indústria fonográfica.

O reggae feito no recôncavo segue o estilo mais tradicional do gênero jamaicano, conhecido no como “roots reggae” ou “reggae de raiz”; com tempo 4/4, baixo na frente em tom grave, exploração melódica variada e incorporação máxima da bateria. Além da empatia étnica, ele encontrou em Cachoeira bons motivos para florescer: ensimesmamento econômico, letargia social e um forte veio criativo popular.

Essa preocupação tão nítida, evidenciada através da forma mais tradicional de se fazer o reggae, reforça a mítica cultivada em vários ambientes baianos, de que no Recôncavo, mais especificamente em Cachoeira, estaria a essência do reggae brasileiro. A pátria negra e musical cujo ethos possibilitou o surgimento de muitos artistas, entre eles, Caetano Veloso, da vizinha cidade de Santo Amaro.

A utilização da música Afro-americana e as tecnologias de comunicação contemporâneas levaram ao desenvolvimento do reggae jamaicano, sua apropriação e reinvenção com a emergência dos blocos Afro-baianos. O poeta/ antropólogo Antonio Risério afirma que o reggae teve um papel importante na aproximação entre as estrelas da música popular brasileira e o som dos afoxés. Para ele a onda artística jamaicana teve um parentesco estrutural, rítmico, com os afoxés. Risério argumenta que a doce música da Jamaica encontra-se estruturalmente muito próxima de certas manifestações musicais brasileiras, como o xote e o ijexá. Nesse contexto a projeção do reggae jamaicano está fortemente ligada ao processo de “reafricanização” do carnaval baiano e da emergência da “blackitude baiana” (expressão do poeta Waly Salomão).

Para Paul Gilroy, a música e as práticas culturais e sociais de origem africana na diáspora negra são portadoras de um mundo melhor e de uma crítica selvagem ao capitalismo e ao Ocidente. Neste contexto, o reggae seria uma das expressões mais importantes para determinadas populações. Ou, em algumas situações bem delimitadas, a expressão adequada ao nível sócio-cultural e às características de algumas comunidades no seu esforço de reconstrução identitária. Todos os elementos referidos sugerem alguma determinação para a adoção do reggae por essa população, mas seja qual for o elemento de identificação mais importante para esta, o reggae se tornou referência estética, tribuna de mobilização, fenômeno social importante.

O primeiro grupo cachoeirano a assumir esteticamente uma postura “rasta” foi o Remanescentes, formado em 1986 e que tinha como um dos líderes o músico Nengo Vieira. A presença de Nengo Vieira, músico de Cachoeira conhecido como um dos precursores da música reggae no Recôncavo, consta nos depoimentos que recolhi como um ator de fundamental importância na história do reggae baiano. Na década de oitenta, sua casa no Alto das Pombas, no bairro da Federação, se constituía num ponto de encontro para os músicos aficionados pelo ritmo. Nela se formou o grupo Remanescentes e chegaram a ensaiar também Edson Gomes, Sine Calmon, Gerônimo, Lazzo e por tabela, até Raul Seixas.

Após a fundação do grupo, Nengo Vieira, Sine Calmon, Marco Oliveira e Tim Tim Gomes voltaram a morar em Cachoeira e trabalharam juntos por quase dez anos. A leitura, a convivência, a postura e a opção de vida, inclusive a deliberada escolha pela cidade de residência, tudo isso fazia a cenografia dos músicos adeptos do fumo e da adoração a Jesus, numa espécie de fundamentalismo. O Remanescentes foi um grupo alternativo comunitário que, segundo os seus ex-integrantes, tinha como objetivo levar a mensagem do evangelho através do reggae. Era composto por oito músicos, que adotavam a estética rastafari, mas que tinham uma forma própria de religião.

Embora tivessem dreads, fumassem ganja e fossem contra as instituições, os Remanescentes faziam uma interpretação da Bíblia dentro dos moldes protestantes e tinham como ídolo Jesus Cristo. O grupo, que tinha como um dos seus admiradores o empresário Wesley Rangel, chegou a gravar um CD demo nos estúdios da WR; mas durante os seus dez anos de existência nunca se preocupou com sucesso comercial.

A presença e influência deles foram responsáveis pelo dinamismo artístico e “explosão” musical na região e influenciou jovens da capital. Atualmente existem cerca de oito artistas/bandas de reggae criados na cidade: Edson Gomes, Tim Tim Gomes, Eddie Brown, Nengo Vieira & Tribo d’Abraão, Sine Calmon & Morrão Fumegante, Dystorção, Jah Live e Só as Cabeças. Nos últimos anos, alguns desses músicos migraram para Salvador com o objetivo de divulgarem os seus trabalhos. A partir de 1996 o Pelourinho se constitui como um dos circuitos para essas apresentações. Os bares Novo Tempo e Babilônia e o Hotel Pelourinho foram palcos onde se apresentaram até 1998 os cachoeiranos Sine Calmon, Edson Gomes, Nengo Vieira e Marco Oliveira. Com o fim da Remanescentes seus quatro líderes formaram outras bandas.

Foi mais ou menos nessa época que alguns músicos soteropolitanos trabalharam com esses artistas. Através de entrevistas feitas com músicos de bandas soteropolitanas emergentes (Adão Negro e Diamba) foi confirmada a hipótese de que o reggae de Cachoeira seria uma grande referência e fonte de inspiração para os seus respectivos trabalhos. Alguns desses músicos chegaram inclusive a trabalhar com os regueiros cachoeiranos e os tem como seus mestres.

De berço do samba a centro do reggae, Cachoeira assisti o ensaio de uma geração de músicos que buscou na autenticidade rasta a reconstrução estética e social da gente afro do recôncavo. A identidade político-existencial com a mensagem rasta aproximou jovens de classe média e pobre do ritmo jamaicano, que foi aculturado no Recôncavo. Além do contexto histórico-cultural, do espaço étnico muito apropriado e das semelhanças – Jamaica e Cachoeira se recriam entre os regueiros locais numa cultura onde a música está em tudo: é forte na religião, central nas procissões e ritos do transe do candomblé, viva nos folguedos e mais, ali, principalmente para a juventude pobre se viabilizar, falar de seus problemas e buscar a ascensão na maresia de uma economia estagnada.

Por fim, a apropriação estética do reggae como a do rock, se faz pelos que se consideram próximos ou dentro do círculo dos que se sentem identificados e se dá, entre outras coisas, pela acessibilidade e similaridade com os que, excluídos pegam pela vereda da música uma carona para o mundo da cultura de massa e da cidadania.

Fonte : Bárbara Falcón

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